sábado, 18 de fevereiro de 2012

A fêmea H. sapiens sapiens portuguesa do séc XXI deve ficar em casa a tomar conta das crias e a preparar a cama para o macho!

Em resposta a "Mulher deve ficar em casa”
O novo cardeal, diz que o Estado deve apoiar mais as famílias, para evitar que a mulher tenha de trabalhar fora de casa.
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/portugal/mulher-deve-ficar-em-casa

Muitas atrocidades têm sido ditas ultimamente! Mais que as outras, esta não tolerei. Vinda de onde vem, e com uma mensagem tão pesada e negativamente nostálgica, senti a necessidade de ripostar.
Assim como as palavras do Presidente da Républica e do Primeiro-Ministro, as dos membros do clero ainda se fazem ouvir e são tidas em grande consideração, infelizmente. Temo que em situações de extrema vulnerabilidade e descontentamente o povo as tome como um bálsamo para atenuar a dor dos seus problemas. Já dizia K. Marx " A religião é o opium do povo". As palavras usadas foram subtis, como sempre são para não ferirem susceptibilidades: "deve poder ficar em casa, ou, se trabalhar fora horário reduzido". Sustentadas pelo marido e se forem solteiras ou divorciadas, sabe-se lá por quem...
É fácil os homens falarem acerca das vontades e necessidades das mulheres. Díficil é tentarem compreender as suas verdadeiras motivações. Desde sempre os membros do sexo masculino subestimaram e temeram as capacidades das mulheres, julgando ser a força física o motivo de distinção entre o ser mais "forte" e mais "fraco", não compreendendo que as diferenças poderiam ser uma mais valia, pois estas se complementam. A necessidade de proteger um ser mais fraco (da mesma espécie) de predadores e de outros machos rivais, eram um dos motivos pelos quais as mulheres deveriam ser protegidas pelo homem e estes dar uso à sua maior vantagem. A selva hoje em dia é outra. Muito diferente da que outrora habitámos. Os predadores são outros e o dinheiro tornou-se um requisito necessário (mas não suficiente) para que possamos viver e educar os nossos filhos. Manter a mulher prisioneira de um dever (ou direito) que deveria ser partilhado por ambos os progenitores, não me parece a resolução para "o maior problema de Portugal".
Vivemos numa sociedade monógama, o que pressupõe à partida uma partilha de cuidados parentais, ainda que não seja de forma equitativa. Não tem que ser a mulher a única responsável pela educação dos filhos. Não tem que ser a mulher, anos mais tarde quando o filho crescer, a ter que ouvir “ a culpa é tua não o educaste bem”. Já fomos assim...  Se cada vez somos menos é porque esse não era o caminho correcto e tivemos que nos adaptar às adversidades da vida. Não queiramos voltar atrás!
As mulheres de hoje (provavelmente nem todas) querem ser cultas, trabalhar, não depender economicamente de homens, muitas vezes, ingratos e adúlteros.

(:

É tudo por hoje. Reflictam!

Happy grunts.

Ps: Este texto não foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O produto da Selecção Natural

Hoje vou escrever sobre um assunto que desde há muito guardo na minha cabeça. De facto, aconteceu-me algo bastante semelhante a situação que passarei a narrar, no entanto, pretendo generalizar o que me aconteceu, atendendo que todas as regras tem excepções. 

Imaginem uma conversa entre um médico, um biólogo molecular que procura incessantemente descobrir a cura para o cancro (como digo cancro, poderia ter escolhido outra doenca como Alzheimer, Malária etc...) e um etólogo (seja ele de que área for, o importante é que estuda o comportamento de animais! O etólogo pode também representar qualquer outra profissão que se encaixe nestes moldes).

O que me fez pensar acerca deste assunto foram as imensas vezes que as pessoas perguntaram porque queria seguir área de comportamento animal e para que isso servia.

Ora bem, imaginem, então, uma conversa, entre os indivíduos mencionados, desencadeada pela simples questão "Porque escolheram a vossa profissão? Só podem indicar uma razão."
Querendo generalizar, a resposta imediata que passaria pela cabeça do médico, poderia ser: ajudo a salvar vidas humanas. O biólogo molecular, na sequência da resposta do médico, diria: eu ajudo a salvar vidas em maior escala! Perante estas respostas, o etólogo responde...

(Reflexão 1: Vivemos numa sociedade em que a maior parte das nossas acções consistem  em benificiar-nos unicamente! O que poderá ser compreensivel, pois todas as outras espécies agem com o mesmo objectivo. No entanto, ao termos consciência de que os nossos comportamentos prejudicam em demasia o que nos rodeia, deveriamos sentir-nos responsáveis por compreender e preservar o meio em que vivemos. 
Todas as profissões são importantes, não quero ser hipócrita ao ponto de menosprezar o que um dia irei precisar. No entanto, vejamos as coisas de uma perspectiva mais distante.
Um engenheiro pode construir pontes, estradas, edifícios, computadores, programas e todo o tipo de tecnologia da qual dependemos hoje em dia. Em outra qualquer área, como advogacia, economia, gestão, recursos humanos, ensino, etc, focam-se indirectamente em melhorar as condições de vida do ser humano. Os médicos diagnosticam as doenças, prescrevem medicamentos e tratamentos. Contribuem, de certa forma, para aumentar a longevidade do ser humano e nao o fazem sozinhos. Enfermeiros, técnicos de várias especialidades, assistentes, todos eles contribuem para tal. No entanto, é necessário equipamento. Para esse fim existem os engenheiros, que também não trabalham sozinhos. Para ajudá-los são necessários arquitectos, designers, operários, pintores, entre outros tantos. Uma maior longevidade pode   resultar também de uma baixa taxa de criminalidade. Para fazer cumprir as leis e punir caso as desrespeitem, existem os juízes, advogados, polícias, entre outros.
Poderia levar o resto do dia a exemplificar como as nossas profissões são importantes para a beneficiar a sociedade. No entanto, estes exemplos parecem-me bem claros.
Um ser humano que não deveria perpetuar os seus genes, por ser menos apto, pode fazê-lo actualmente se tiver cuidados médicos,  uma boa qualidade de vida (casa segura, carro seguro, bom ambiente social)... e ... dinheiro!
Palavras-chaves: maior longevidade (mais saúde), melhor qualidade de vida.

Reflexão 2: O que somos hoje resulta de um processo evolutivo que teve começo há muitos e muitos milhões de anos, através do qual a selecção natural e sexual tem actuado de forma a eliminar os menos aptos, favorecendo aqueles que melhor se adaptam ao meio. Serão esses, consequentemente, que irão passar os genes às gerações futuras. A chita mais rápida consegue capturar a presa com mais facilidade, tem mais hipóteses de sobreviver. O chimpanzé mais forte e/ou que usa melhor estratégias para ser bem sucedido no grupo tem mais hipóteses de ser dominante, logo tem maior acesso às fêmeas. O leão macho que ganha a luta pela fêmea, demonstra ser o mais apto, acasala com ela. O pavão que tem a cauda mais bonita e maior é mais atraente para a fêmea (mesmo com uma cauda grande, podendo representar um "handicap", o pavão consegue sobreviver no seu dia-a-dia). Tudo isto com um objectivo comum, passar os seus genes aos descendentes. 
Se pensarmos no nosso caso, humanos, o que significa ser o mais apto? Na minha opinião, de uma forma geral,  um indivíduo é tanto mais apto quanto mais dinheiro tiver (mais uma vez é importante mencionar que todas as regras tem excepções). Comparemos um caso hipotético de dois indivíduos com o mesmo "background", que desenvolveram cancro. um dos indivíduos recebeu dinheiro (rico), mais do que suficiente para pagar os tratamentos mais caros. O outro recebeu uma quantia insuficiente para pagar os tratamentos, sejam eles quais forem (pobre). Os tratamentos são caros, é um facto! O pobre não pode tratar-se, pois não tem dinheiro, portanto as probabilidades de morrer da doença são mais elevadas que as do rico, uma vez que este pode ser tratado pelos melhores médicos, utilizando os melhores métodos. O rico poderá sobreviver mais facilmente e caso isso aconteça poderá ter filhos (passar os genes à descendência). Claro que não é assim tão linear na vida real, porque no combate à doença, a motivação, a presença dos familiares e amigos, parecem desempenhar papéis importantes, para além da resistência aos tratamentos e da nossa herança genética. No entanto, pretendi comparar 2 situações iguais onde o dinheiro é a única variável.
"O dinheiro não compra o amor!"
Estudos indicam que as mulheres preferem homens com estatuto social mais elevado, ou seja, com mais dinheiro. Para além disso, se um homem é rico cuidará melhor da sua aparência, podendo até realizar cirurgias plásticas de forma melhorar a sua simetria facial (outro característica preferida pelas mulheres). Um maior poder económico pode oferecer aos filhos e à mulher uma melhor qualidade de vida.
Nota: Estou a usar o homem como exemplo, porque são normalmente as fêmeas que escolhem os machos, consoante os seus atributos. São elas também o factor limitante na reprodução. Enquanto a mulher pode gerar teoricamente uma (ou pouco mais que isso) vida em 9 meses, o homem pode fecundar várias mulheres por dia (desde que o esperma seja viável).
O filho de um casal pobre poderá estudar, pode ter bolsas se for bom aluno, arranjar um bom trabalho e ser bem sucedido. 
Pois pode. 
Mas o filho do rico terá mais facilidade em arranjar uma boa escola, uma boa universidade, ter acompanhamento escolar. Pode ainda frequentar aulas de música, praticar desporto e outras actividades que o estimulam física e cognitivamente, com mais facilidade que os pobres, porque tudo isso custa dinheiro!!
Não quer dizer, no entanto, que os pobres não consigam ter sucesso. O esforço exigido é maior. Não quer dizer que os ricos atinjam todos os objectivos, pois podem desleixar-se, mas na verdade têm a vida mais facilitada. Mais uma vez, existem outros factores a pesar, mas vamos partir do principio que ambos têm problemas semelhantes a vários níveis. 
Apresentei somente alguns teóricos para perceberem onde quero chegar, mas poderia continuar a mencionar mais exemplos...


Basicamente o que pretendo dizer, é que temos vindo a arranjar meios para lutar contra o resultado da selecção natural e o dinheiro é um deles, senão o mais importante!).


... voltando à questão inicial "Porque escolheram a vossa profissão?"
O etólogo responde: "Para estudar o produto da selecção natural/sexual."


Aceito objecções e todo o tipo de comentários coerentes.


Happy grunts, 
Renata Mendonça



domingo, 4 de dezembro de 2011

A música e os primatas não humanos

Não sei se alguma vez pensaram acerca de como os outros animais percepcionam a música.

Como apreciadora de música em geral, já pensei nisso. As primeiras tentativas foram há uns atrás quando era mais nova, na casa da minha avó quando cantava para os gatos! Era somente uma criança à espera de qualquer reacção por parte destes animais. A mensagem das minhas canções era sempre a mesma "Não fujas, porque não te quero fazer mal!".
Acredito que muitas crianças tenham feito isso, especialmente se cresceram influenciadas pelos filmes da Disney. Onde, inclusive, os animais para além de responderem às músicas, cantavam com vozes extraordinárias. O meu ídolo era a Pocahontas, ela não se limitava a cantar para os animais, ia mais a frente, cantava para os espíritos e para o vento!
Recentemente estava a ver um reportagem sobre pessoas (nos EUA) que tinham chimpanzés como animais de estimação. Uma delas referiu que quando os chimpanzés assistiam a filmes de terror, ou filmes de acção que exibissem perseguições, eles ficavam extremamente agitados e vocalizavam histericamente. O próprio dono/tratador disse que eles  pressentem e premeditam que algo terrível vai acontecer.  Concluindo ainda, que os chimpanzés gostavam desse tipo de filmes.
E qual a relação com a música? Existem estilos de música bastante agressivos (como vocês sabem) e assim como imagens rápidas, de pessoas a serem perseguidas, lutas, sangue, etc, podem suscitar comportamentos de excitação nos chimpanzés, saber qual seria a influência de musicas com riffs rápidos, pesados, vozes guturais, por exemplo, seria interessante. Ainda mais sendo eu apreciadora desse estilos musicas.

Antes de mais é importante perceber como os chimpanzés percepcionam a música. Se o que eles ouvem se assemelha ou não ao que nós ouvimos.  
Recentemente tenho vindo a falar disso, e agora que a primatologia já faz parte do meu dia-a-dia, parece-me interessante pesquisar sobre o assunto e quem sabe se algum dia, caso tenha alguma hipótese plausível de ser testada, não inicie a minha própria experiência. Depois de adquirir muita bagagem teórica e prática, com certeza! 
Um estudo recente de uma equipa Japonesa (Sugimoto et al., 2010) revelou que os chimpanzés, também parecem distinguir os sons consonantes dos sons dissonantes e preferir os primeiros.  
Claro que se lermos o artigo com atenção há muita coisa que podemos apontar como menos positivo, começando por exemplo, pelo facto de só terem utilizado um chimpanzé bebé como amostra da experiência. (Não vos quero maçar com o estudo, por isso se tiverem interessados em saber mais posso facilitar os artigos). A meu ver, é já um começo, e melhores estudos podem advir.
Outro estudo de McDermott e Hauser (2007) com tamarins cabeça-de-algodão e marmosetas comuns (ou seja andamos mais uma milhões de anos atrás na evolução do Homem) preferem tempos lentos, mas não parecem não gostar de música no geral e preferir o silêncio, ao contrário dos homens que preferem por norma tempos rápidos. Para além destes Macacos do Novo Mundo não mostrarem preferência por sons consoantes (McDermott e Hauser, 2004) , como mostrou o chimpanzé e macacos japoneses num estudo de Izami (2000) . 
Estes são alguns exemplos de estudos realizados, com os nossos parentes mais próximos, e inúmeros estudos foram ou estão a ser realizados com humanos. No entanto, a questão permanece em aberto, e muitos mais estudos serão necessários para compreender como se originou e evoluiu a música e, se nós, humanos, seremos os únicos adaptados para a compreender e distinguir, por exemplo, sons consonantes de dissonantes. 
Outros animais, sejam eles, aves, mamíferos marinhos ou primatas não humanos, podem ter evoluído noutro sentido, para melhorar outras funções relativas à audição/cognição cruciais de forma a sobreviverem aos problemas impostos pelo meio que os rodeia. E não terem evoluído no sentido de perceberem a música,  por nós produzida. Afinal qual seria a vantagem de um chimpanzé perceber e apreciar uma sinfonia de Bach ou uma música de heavy metal? Para a sua sobrevivência, seria efectivamente, mais vantajoso perceberem as vocalizações (bem mais simples) de conspecíficos e predadores.
De qualquer forma não basta pensar e deduzir que eles não percepcionam a música simplesmente porque evolutivamente não faria sentido. São precisos estudos para apoiarem, ou não, essa hipótese.
E venham eles!

Ps: Hoje é Domingo, não houve experiência, portanto estou a trabalhar no meu projecto!

Happy grunts, 
Renata

__________________________________________________________________________________
Som dissonante - Caracterizado por ondas de padrões irregulares, com periodicidade não definida, que resultam em sons desagradáveis.
Som consonante - caracterizado por ondas ausentes de distorção e quaisquer outras irregularidades sonoras, ou seja, a música como nós a conhecemos hoje.
(Goto, 2009)



sábado, 3 de dezembro de 2011

Nós pensamos que não, mas a vida dá voltas pequenas!

Eu disse no meu post anterior que iria apresentar os chimpanzés, no entanto, acho que ainda é cedo para tal. Primeiro precisam de passar por um teste de paciência e eu preciso de perceber se estão realmente aptos para os conhecerem. :)

Estou num momento de reflexão e preciso de partilhar convosco.

"Nós pensamos que não, mas a vida dá voltas pequenas! " > No meu caso é verdade!

Desde pequena, sim um dia também fui, porém sempre mais alta que todos os outros... Desde de pequena que gosto de animais. Lembro-me de ir para a casa da minha avó, no campo, e brincar aos veterinários com os gatos. Lembro-me que ainda não sabia escrever, porque brincavam aos professores e inventava uma escrita que só eu entendia. Teria, portanto, uns 4/5 anos. E brincava aos veterinários com os gatos! Fingia que os gatos estavam doentes e, como remédio para a doença, dava-lhes água com açúcar. Não pensem já que os gatos ficaram diabéticos por minha culpa! Se bem me lembro a dose de açúcar era insignificantemente pequena e não ia ao "campo" assim tantas vezes e não me lembro se eles realmente bebiam. Nessa altura, o elefante era o meu animal preferido, até que um dia um episódio infeliz no Zoo de Lisboa, para uma criança de 4 anos, denegriu completamente a sua imagem.
Nessa época não conhecia a profissão de bióloga e lembro-me de dizer que queria ser médica dos animais! 
Quando aprendi a escrever, e tenho esta memória bem presente, pois adoro vasculhar os livros da escola antigos, lembro de ter escrito uma composição sobre as focas e lembro-me do desenho que a ilustrava. Quando aprendi a usar o computador, fiz uma montagem com as orcas, recolhi informação em livros e escrevi uma composição sobre elas, que ainda guardo com muito carinho.  Nessa altura já sabia dizer que gostava de biologia marinha. Em 1997,  a minha mãe ofereceu-me, sabem, aquelas "bolas" com a base plana que têm casinhas lá dentro e ao serem agitadas parece que neva?. Em vez de casinhas e neve, tinha uma orca e água. E lá dizia "Para a minha futura bióloga marinha". Entretanto, também já tinha 3 barbies alusivas à biologia marinha, uma mergulhadora, uma com o golfinho e a outra com a orca! Eram as minha preferidas e brincava com elas na piscina,  na praia e na banheira. Sem falar nas inúmeras fotocópias de animais que guardava numa capa com muita estima, tinha leopardos-das-neves, chitas, tubarões, gorilas, chimpanzés etc, etc... Talvez o facto de ter praticado natação, misturado com a paixão pelos animais tivesse moldado a minha preferência pela biologia marinha (com a ajuda do filme Free Willy).
No ensino secundário, mais propriamente na idade do armário, parecia não estar muito certa do queria, outras ideias passaram-me pela cabeça: investigação legal, biologia molecular, genética (sempre, sempre na área de biologia). Mas foi com a ideia da biologia marinha na cabeça, e ao mesmo tempo com receio de me arrepender, se escolhesse especificamente b. marinha, que pus em todas as opções, aquando do concurso à Universidade, "Biologia".
Até ir para Erasmus, a ideia parecia manter-se, no entanto, comecei a interessar-me mais e mais por evolução humana e primatologia.
Quando regressei a Portugal. Apercebi-me que tudo o que sempre quis tinha sido ultrapassado pela vontade de estudar os nossos parentes mais próximos: os primatas não humanos.
- Mas isso foi uma grande volta! - diz o meu lado emocional - de cetáceos para primatas... 
Eu não concordo.
É verdade que o meio mudou, da água passou a terra! Assim também eu mudei, deixei de estar dentro de água 7/8 vezes por semana. No entanto, as semelhanças são muito maiores do que pensamos. Ambas as ordens pertencem à classe dos mamíferos, em ambas as ordens encontramos espécies mais sociais, outras solitárias, com capacidades cognitivas elevadas outras menos, têm uma grande área de dispersão e infelizmente muitas espécies estão ameaçadas! Se em vez de primatas tivesse escolhido estudar outra classe de animais: aves, a volta não seria muito maior, seria sempre possível arranjar analogias para ligar as duas classes! 
Há muitos milhões de anos atrás todos partilhámos o mesmo ancestral, portanto há muito em comum em todas as espécies. E escolher uma em detrimento da outra, não significa que abandonamos uma por completo e preferimos outra para sempre. Independentemente da escolha continuaremos sempre a remar na mesma direcção: para compreendermos a origem, adaptação e sucesso das espécies num planeta em constante mudança. Para podermos partilhar os nossos conhecimentos com outras pessoas que se dedicam a outras áreas.
Por vezes dou por mim a pensar que mudei da noite para a manhã, e facilmente me esqueço que ambas fazem parte do mesmo dia!

Quando dizem que a vida dá voltas grandes, pensem e reflictam se é realmente verdade!

Ps: Hoje fiz a experiência de controlo com o grupo do Gon, ou seja, as mesmas condições mas sem realizar a tarefa numérica e sem receberem comida. 
A Chloe manda cumprimentos. (O vidro está sujo mas percebe-se :) )





Happy grunts,
Renata

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Hoje o Akira monopolizou a experiencia!

Antes de mais quero pedir as minhas desculpas pela falta de acentos e cedilhas! Estou a escrever num teclado japones definido em ingles (que confusao!!!), portanto enquanto estiver no Instituto isto vai sempre acontecer.

Pois e! Este vai ser o meu primeiro post onde vou introduzir o blog e a minha pessoa.

Ora bem, e a minha terceira tentativa de manter um blog, mas desta vez vou dar-lhe um uso mais profissional.
Passo a explicar:
O primeiro blog que criei servia para escrever coisas lamechas e letras para musicas (pois e, todos nos passamos por essa fase), a segunda tentativa de blog, idem, no entanto, ainda se mantem, mas ja nao escrevo ha muitos meses!
Esses blogs que falam de coisas mais abstractas acabam por cansar, porque muitas vezes nao temos disponibilidade psicologica para encarnar uma personagem que sofre de amor e traduz todos os sentimentos mais negros, numa escrita menos coerente. Assim, se escrever sobre algo de interesse e referente ao meu dia-a-dia sera talvez mais facil manter (caso contrario, so posso dizer que o problema e meu).
Dentro destes moldes, eis que surge este blog! A razao e simples. O meu irmao nao usa facebook (onde e que ja se viu, que "demode"!!), entao, um dia em conversa, disse que deveria escrever sobre o meu trabalho e experiencia com os primatas "mas nao escrevas no facebook, escreve num blog"! Dito e feito (nem sempre sou assim, mas a ideia pareceu-me boa). Por isso, espero que ele seja um frequentador assiduo do meu blog e como prova quero comentarios! Sim porque como aprendiz de cientista exijo isso, no minimo!
Outra sugestao que me deram foi fazer um vlog, seria bom para treinar a comunicacao oral, que e muito importante na nossa vida, especialmente na dos cientistas, mas a pressao e maior e nao gosto la muito de falar para camaras.

Para comecar vou explicar 1) quem sou, 2) onde estou  3) e o que estou a fazer!

1) Sou licenciada em Biologia, pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tecnica de Lisboa e neste momento estou a frequentar o segundo ano do Mestrado de Evolucao e Biologia Humanas, na Faculdade de Ciencias e Tecnologias da Universidade de Coimbra (soa tao mal sem acentos/cedilhas).

2)Estou sentada! Deveria estar a escrever a minha proposta de tese (quase, quase no fim), mas decidi escrever no blog (boa!!!).
Estou sentada numa cadeira em frente a um computador, numa secretaria, no interior de um gabinete, situado no quinto piso de um edificio, que pertence a um Instituto denominado "Primate Research Institute", localizado na pequena cidade de Inuyama, pertencente a prefectura de Aichi, no Japao. Finalmente!!!
Podem visitar o site aqui  http://www.pri.kyoto-u.ac.jp/ e ver os maravilhosos chimpanzes, entre outras coisas! Podem tambem ver a performance do chimpanze Ayumu em alguns testes cognitivos realizados com o computador, aqui: http://www.youtube.com/watch?v=Zz7ShiQqLQg.
Mais tarde explico!

3) Estou a fazer as observacoes para a minha tese de mestrado.
No que isso consiste exactamente?
Se viram o video, concerteza, perceberam que existia um monitor. Imaginem um monitor incorporado na parede exterior de uma casinha feita de vidro, no meio do recinto dos chimpanzes.  E mais facil mostrar a imagem!


Neste caso os chimpanzes estao livres, e quem esta enclausurado sao os investigadores.
Nao se preocupem! Existe um tunel que passa por debaixo da terra, os vidros sao duplos, muito resistentes e quando quebrados nao estilhacam. Portanto, acho que estou (mais ou menos) a salvo!
Como viram no video (espero que sim), o chimpanze esta a realizar uma tarefa numerica, que testa a memoria a curto prazo. Consiste em memorizar os numeros numa determinada posicao e, assim que os numeros forem cobertos por quadrados eles indicam a ordem correcta.  A tarefa que estou a realizar e bem mais simples. O numero 1 aparece e eles tem que carregar em cima no ecra e recebem a recompensa - 1 cm cubico de maca. E verdade! Trabalham tanto por tao pouco, quem diria! Na verdade alguns investigadores do Instituto acreditam que os chimpanzes nao trabalham tanto pela comida (porque a quantidade e insignificante e eles sao bem alimentados), mas sim pelo desafio que a tarefa representa. Pois, o seu habitat natural, tambem requer a resolucao de inumeros problemas para encontrar recursos alimentares:  saber a sua localizacao, saber como processa-los, categoriza-los, quantifica-los, etc...
Resumindo, sabemos que existe uma fonte que fornece alimento, ainda que, em pequenas quantidades, e para obterem comida, necessitam de receber estimulos cognitivos.
Essa unica fonte de alimento, vai ser partilhada por dois grupos de chimpanzes. As Segundas, Quartas e Sextas-feiras o grupo do Akira (macho dominante) constituido por 4 femeas (Reiko, Ai, Pendesa e Mari) e um macho juvenil (Ayumu) vai estar no recinto. As Tercas, Quintas-feiras e Sabados, o grupo do Gon (unico macho) constituido 4 femeas adultas (Puchi, Chloe, Popo, Pan) e duas femeas Juvenis (Cleo e Pal) ocupara o local. E importante referir que a Ai e o chimpanze que mais participou em experiencia cognitivas (publicadas em inumeras revistas cientificas, inclusive a Nature) e os juvenis apresentam optimos resultados em diversas experiencia cognitivas.
Todos os individuos vao ter acesso a fonte, no entanto, so um pode monopoliza-la.

Algumas questoes que pretendo responder:
Quem monopolizara a experiencia? Os individuos dominates? Ou os que tem mais experiencia?
E se a dificuldade da tarefa aumentar?
O que acontece quando sao retirados do grupo, os individuos que mais participam na experiencia?
Sera que a saida/entrada de chimpanzes destroi o equilibrio que eles naturalmente encontram entre si?
Que estrategias usam os chimpanzes para realizar a tarefa?
Sera que no grupo constituido por dois chimpanzes machos, a percentagem de agressao e superior?
Entre outras...

Neste momento vou na setima sessao (3 com o grupo do Gon, 4 com o do Akira) e posso desde ja informar que a saida/entrada de individuos do grupo, tem despoletado em todas as sessoes, comportamentos agressivos e alguns casos em cadeia!

Hoje quem dominou a sessao, com a duracao de 1h, foi o Akira...
Ei-lo aqui!



Nao percam o proximo post! Vou falar dos chimpanzes individualmente.
Nao hesitem em contactar-me se tiverem alguma questao!

Happy grunts,
Renata


Ps: Todas as fotos sao da autoria da Renata Mendonca.